Ha algum tempo falamos com alguns pais sobre paternidade, queríamos entender melhor: o que é, afinal, ser pai?
Um dos pais que conversamos é o Rafa. Ele é programador, pai da Olívia, e tutor dos gatos Jiraiya e Django. Além disso, ele e a Andreza, mãe da Oli, foram por muitos anos lar temporário de gatinhos resgatados pela ONG Crazy Cat Gang.
Sobre paternidade, acredita que “ser pai é estar presente (…) dar muito amor, ensinar coisas legais, coisas diferentes, outra visão do mundo e não enquadrar ela em nada. Deixar minha filha livre pra não precisar só ser 'menininha de rosa', se ela quiser fazer 'coisa de menino'. Sou da aventura e tento passar isso pra ela não ficar presa, e aproveitar a vida”.
Nos disse também que ter os peludos antes de ser pai ajudou: aprendeu a ter paciência, cuidar da alimentação, saúde, higiene, ter tolerância com a bagunça e a destruição dos menores. Quando a Oli nasceu ele estava mais preparado, e logo chegou a hora de ensinar ela a cuidar e respeitar os gatinhos: “no começo era muito Felícia, e queria esmagar todos”, disse. Mas com tempo aprendeu, e ainda continua aprendendo muito com eles.
Para Rafa as crianças, assim como os gatinhos, aprendem muito pelo exemplo - mais do que pelo discurso. Eles estão sempre prestando atenção. A Oli, por exemplo, se faz algo errado não precisa nem dar bronca, porque ela já vê e faz certo na próxima.
Lindo é ver como ela sempre lidou bem com a passagem dos gatinhos temporários, ajudando eles a socializar, dando amor, e ficando feliz quando cada um é adotado por sua família definitiva <3 .
O que dizer dessa família? Podemos apenas sentir (e nos inspirar).
Um outro formato de família é o do Neto. Formado em comunicação e morador da capital paulista, Neto é pai de bicho: os bugs Chico e Theo. Perguntamos se ficava incomodado com o termo “pai de bicho” mas ele disse que adora - e o resto da família também aderiu, pois os pugs também têm tia e avó humanas.
“Ser pai é um misto de amor e preocupação. Alegria intensa e culpa. A gente sempre fica dividido tentando fazer o nosso melhor. E eles nos ensinam muito mais do que a gente ensina eles. Mudei totalmente minha rotina desde que eles vieram. Tudo muda. E chega uma hora que você esquece como era antes.” nos revelou sobre a relação com os pequenos.
A rotina da família é bem organizada: todo dia tem passeio no bairro, brincadeira de bolinha e corrida (especialmente com o mais novo, que é mais energético). Aos finais de semana vão ao parque socializar os peludos com outros cães. Neto também sofre do velho dilema de pais e mães - como ter tempo de qualidade com os pequenos em uma vida corrida: “o maior desafio é você tentar estar sempre por inteiro quando está com eles. No fim são poucas horas por dia que passamos acordados juntos e precisamos estar conectados”.
A personalidade dos dois pugs não podiam ser mais distintas: Chico, é mais preguiçoso e bonzinho - adora comer, receber carinho e dormir juntinho. Já o Theo, é arteiro, carente e adora fazer charme pra ganhar colo.
E que bom que eles têm um pai maravilhoso como o Neto, que se dedica por inteiro.
Outro tutor muito cuidadoso e presente é o Cassiano. Ele, diferente do Neto, é um pai de bichos relutante, ou seja: a boca fala que não enquanto todas as atitudes dizem que sim. Ele e a namorada adotaram a gatinha ‘escaminha', enquanto o cão já tinha sido adotado por ela antes deles namorarem. Frases como “ela gosta que caminhe com ela no colo, não gosta de ficar parada” ou “ele tá olhando pra você meu amor, dá atenção que ele quer carinho” mostram que ele está sempre atento às necessidades e sentimentos deles.
“Eu me preocupo se estão com frio, fome, se comeram ou não, se precisa de remédio, se precisa tosar, se dormiram bem em uma caminha confortável (…) A gente se preocupa com as experiências deles.”
Cassi e a gatinha se dão muito bem, sempre que ele passa perto de alguma mesa ou balcão ela sobe em cima para pedir um colo. Inclusive só deita boazinha, sem morder, no colo dele. É uma comunicação que não precisa de palavras. O cachorro, que era um grude com a mãe humana e não ficava sossegado com mais ninguém, adotou o pai rapidinho e fica muito tranquilo.
Cassiano enfrenta até o frio do Sul, que ele odeia, para fazer o cachorro feliz - e o peludo sabe disso. Reconhece até qual é o tênis do passeio e fica todo agitado quando vê o pai calçando. "O Tim Tam entende tudo!” ri com orgulho.
“Eu? Não sou pai de bicho não” ele disse… Ele que nos perdoe, ele pode não gostar do rótulo de pai, mas o cuidado e o dengo que ele tem com esses peludos não deixam dúvidas: é amor sim.
Por último, falamos com um pai muito plural. Fábio e Lara criaram o banheiro canino justamente para facilitar a vida (na época estavam grávidos do filho Bento), e terem mais tempo para curtir as filhas peludas.
Fabio disse que, para ele, ser pai é "se sentir responsável pelo bem estar, criação, educação, valores, pela construção de um ser humano novo.” A resposta parece séria, mas quem vê os dois brincando, inventando histórias, aprendendo juntos, vê que é muito mais. Ver como eles se curtem e conectam é de derreter o coração. Em 2020 Bento ganhou uma irmãzinha tão linda e esperta quanto ele, e agora podem explorar o mundo juntos, cuidar dos bichos e um do outro.
Quando perguntamos se acha que têm semelhanças entre ser pai de gente e bicho, respondeu rindo “200%”. Disse que para crianças e peludos precisamos de paciência, dedicação, educação, amor, cuidados na alimentação e bem estar “É um trabalho que exige bastante, mas a recompensa não tem preço!”
Este pai de bicho está formando uma grande família de peludos: começaram com a golden Pepa, depois adotaram a Lili. A gatinha Maria adotou a família: apareceu na casa bem dengosa, e nunca mais foi embora. Já os coelhos Lino e Lina foram um pedido do Bento. “Está sendo ótimo pro Bento cuidar deles". Desde pequeno ele aprendeu a amar e respeitar os animais, e desde que saíram da capital para viver no interior paulista ele tem oportunidade de curtir muito mais.
A família procura consumir produtos que façam o mínimo de impacto no meio ambiente, e se cercam de soluções para isso: a composteira da casa foi o sogro dele que construiu.
O Fábio é um pai coruja assumido, desses que morre de orgulho de tudo que os filhos fazem.
“É muito clichê mas você quer ser melhor a cada dia para ser referência e guia pra essa pessoa.” Arriscamos dizer que essa vontade acabou ‘transbordando’ além da família e vêm ajudando mais gente: é querer fazer um mundo melhor para o Bento e para a Lia e, ao mesmo tempo criar seres humanos melhores pro planeta.
Afinal, o que é ser pai mesmo?
Apenas ser pai biológico (com os 23 cromossomos)? Ser pai perante a lei (na certidão ou na adoção)? É a prática do paternar (presença, cuidado, divisão de tarefas, estrutura)? É o amor, a preocupação? É a divisão de tarefas, noites em claro, cuidado de corpo e alma? E até: será que dá pra definir em uma coisa só ou há múltiplas dimensões da paternidade? Nesta data celebramos os diferentes pais e cuidadores presentes de corpo e alma para seus filhos e/ou pets.
Muito amor e gratidão para a presença ou memória de cada pai.